A Dona Verdilina era uma senhorinha de uns 80 anos, mais ou menos, usava sempre um lenço florido amarrado em baixo do queixo. Como era já bem velhinha andava um pouco encurvadinha se e apoiava numa bengalinha. Ela parecia mesmo uma velhinha dessas de desenho animado.
Ela quase não saía de casa e não sei por qual razão vivia sozinha, numa casinha bem simples, de madeira e sem piso, nos fundos da Igreja Cristã, ao lado da Farmácia do Osvaldo, em Francisco Alves no Paraná.
Nessa casinha, que também ficava há duas casas da nossa, tinham dois cômodos: o quartinho no fundo, com aquelas camas de mola e os lençóis mais brancos que poderiam existir. Na frente a cozinha, que tinha apenas um antigo fogão à lenha, feito de barro e sem acabamento, uma mesinha rústica de madeira, dois banquinhos e uma prateleira com uma tábua e uma bacia, onde ela lavava as louças. Tudo na casinha da Dona Verdilina era muito simples, mas de uma limpeza inacreditável.
Ela tinha 80 anos e eu 5, mas éramos grandes amigas. Todas as tardes, religiosamente, eu fugia de casa e ia para a casinha da Dona Verdilina. Era sagrado, todas os dias eu dava um jeito de escapulir de casa e ia ter com a minha amiga querida.
No início era aquele desespero, minha avó e minhas tias ficavam malucas me procurando: Onde se meteu essa menina? E saiam cada uma para um lado à minha procura. Sempre acabavam me encontrando tagarelando na maior intimidade na cozinha da vizinha idosa. Depois de algumas vezes de fuga, minhas tias já iam direto na casinha da igreja me buscar. Fazia parte de todo o ritual sair escondida, mesmo quando todos já sabiam onde eu estava.
Eu adorava papear com a vizinha e tomar o cafezinho fresquinho e doce que ela fazia para me esperar. Ela tinha duas canequinhas verdes de alumínio esmaltadas e dizia que uma dela e outra minha. Ela fazia também uns bolinhos de arroz e esfriava o meu café. Depois ficávamos conversando por horas.
Ela sempre contava histórias de quando ela era pequena e morava na roça, mas nunca me contou porque vivia ali sozinha naquela casinha. Eu ficava olhando ela varrer a casa ou o quintal, lavar as louças e depois lavar e dependurar suas enormes calçolas na cerca. Eu ficava muito admirada com o tamanho das calçolas dela. Às vezes eu queria ajudá-la e então ela me mandava rodar a manivela do cilindro quando ela resolvia fazer pão.
Foram muitas as tardes de prosas na casa da Dona Verdilina, até que um dia cheguei na casa dela e estava tudo trancado. No dia seguinte a mesma coisa e no outro também. E eu voltava para casa triste, mas não falava nada. Numa das vezes minha avó me encontrou voltando cabisbaixa e falou que ela havia se mudado e eu desandei a chorar, fiquei muito brava porque ela não tinha me contado que ia se mudar e nem se despedido de mim.
Minha avó e minhas tias me agradaram e minha tia passou a me levar com ela todas as tardes para escola onde ela lecionava. Eu já tinha feito seis anos e passei a frequentar então o Grupo Escolar Coronel Alípio Ayres de Carvalho como ouvinte da professora Inês.
Anos mais tarde, falando sobre o assunto, minha avó finalmente me revelou que na verdade a Dona Verdilina não havia se mudado, mas que tinha falecido. Naquela manhã a haviam encontrado morta na cama e minha avó ficou com dó de me contar.
Trinta e quatro anos se passaram, mas eu nunca esqueci da minha amiga querida, das nossas conversas animadas e do seu delicioso cafezinho feito no fogão à lenha.
A amizade não conhece limites, fronteiras ou barreiras. E não existe outro nome, além de amizade, para a relação que tinha com a Dona Verdilina.
Que delícia de história. É tão bom quando as pessoas passam pelas nossas vidas e deixam uma marca tão profunda quanto esta. Isso me fez lembrar um pouco a minha infância. Existe uma "Dona Verdilina" na minha vida e eu tenho muito carinho por ela!
ResponderExcluirPeço a Deus que prolongue os dias daquela amável velhinha. Hoje ela já está bem fraquinha... fazia um doce de goiaba ímpar.
Lembro bem.
Parabéns!
Encantada!
http://distractingpages.blogspot.com/
post muito bonito! parabens! a vida tem que ser vivida com intensidade. O nosso passado sempre fará uma ponte com o nosso presente, por isso devemos respeitar e amar as pessoas q passam pela nossa vida!
ResponderExcluirblogestarcomvoce.blogspot.com
NOSSA ESTA LINDA HISTORIA-ME FEZ LEMBRAR-SE DE UMA SENHORINHA QUE MORAVA PROXIMO A MINHA CASA NO BAIRRO PRETO. CHAMAVA SE DONA ANGELICA! EU ADORAVA O BOLO DE MILHO QUE ELA FAZIA NA PANELA DE FERRO, O QUAL ELA ASSAVA COM UM TAMPA DE LATA CHEIA DE BRASAS EM CIMA DO SEU FOGÃO A LENHA. NOSSA CONSIGO ATE SENTIR O CHEIRINHO MARAVILHOSO QUE EZALAVA PELA SUA CASA!
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