domingo, 22 de abril de 2012

O Encantador de Gatinhos

Ele se chama Senhor Orlando e há mais de quinze anos alimenta gatinhos abandonados no Parque Ibirapuera. Eu o conheci num domingo enquanto corria na trilha do parque.

Era final de 2008 e eu estava bastante empenhada em perder alguns quilos. Para isso comecei a caminhar diariamente no parque e em pouco tempo já estava correndo alguns quilômetros. Enquanto corria pela trilha passava sempre por um lugar lotado de gatinhos. Eu sou apaixonada por felinos e sempre ficava olhando-os. Mexia com eles e chegava a parar para observá-los algumas vezes. Ficava pensando: como será que eles se alimentam? Onde dormem? Numa das vezes percebi uns potinhos com rações deixados em alguns pontos.

Todas as vezes que passava por lá percebia sempre a ração fresquinha e potinhos com água limpa. Ficava feliz e intrigada: quem será que alimenta esses gatinhos? Imaginava ser algum funcionário do parque...

Nesse domingo qualquer no final de 2008 resolvi sair mais cedo para correr. Levava comigo o celular, que sempre uso para ouvir músicas quando corro. Quando entrei no km 1 da trilha dei de cara com ele: o encantador de gatinhos. Ele estava munido com sacolas, sacos de rações, potinhos de carne cortadinhas em pequenos cubos e garrafinhas com água. Assoviava feliz da vida. À sua volta pelo menos uns 12 gatinhos lhe faziam festa. Conforme ele se aproximava os gatinhos iam saindo do mato e ficavam pulando em torno dele. Meu coração se encheu de alegria. Sem a menor cerimônia cheguei para ele e disse:

 - Ah! Então é o senhor?

E ele sempre sorrindo me respondeu:

 - Sim filha sou eu que venho aqui alimentar esses pestinhas que eu amo. Minha esposa já quis até se separar de mim por causa do meu encontro diário com eles, que para mim é sagrado.

Ele me estendeu uma sacolinha e sem perceber comecei a ajudá-lo a distribuir os pedacinhos de carne e ração. Depois de alimentar os gatinhos todos, nessas alturas já tinha desistido da minha corrida, nos sentamos num banquinho lá na Praça do Porquinho e conversamos por horas. Ele me contou que há muitos anos vai religiosamente ao parque alimentar os bichanos e que nunca mais viajou e nunca mais foi à missa pela manhã. Ele simplesmente não tem coragem de deixar os bichinhos sem comida. Por causa disso disse que já arrumou muita briga, com pessoas que frequentam o parque, que não gostam de gatos e acham errado o que ele faz. Disse que a sua esposa fica chateada por ter de viajar sempre sozinha ou com as filhas, mas ele disse que alimentar esses gatinhos é o seu principal compromisso na vida.

Eu fiquei encantada com suas histórias, com a sua dedicação à gataiada. Depois desse dia passei a ir todos os domingos de manhã ao parque. E nos encontramos algumas vezes. Em seguida, passei uma longa temporada sem ir correr no parque. No final do ano passado voltei a correr na trilha. Alguns dias na semana passo de novo pelo caminho e fico feliz quando vejo, ainda hoje, os potinhos de ração espalhados. Ainda não o reví, mas tenho ido sempre aos domingos de manhã na esperança de reencontrar o meu amigo encantador de gatinhos.




2 comentários:

  1. Ah, fiquei encantada pelo seu Orlando... Que pessoa mais linda, Dri!!!
    O mundo precisa de mais Orlando's

    Saudade.

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  2. Ah, imagino que feliz que tenha ficado ao desmitificar quem cuidava dos gatinhos, me veio na hora a cena do filme Amelie Poulan quando descobriu o mistério das fotos cortadas. Que bacana o seu encontro, Dri, espero que possa encontrar logo com ele novamente e nos conte do reencontro.

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